
“Eu amo Caraíva!” - Silvinha respondeu quando lhe perguntei aonde gostaria de ser fotografada, ainda em São Paulo.
Em 2013 comecei um projeto de retratos chamado Donas do Próprio Nariz, no qual eu fotografava mulheres independentes e realizadas pessoal e profissionalmente. Na época eu sabia pouco além da camada mais óbvia do feminismo e da luta das mulheres e este projeto me abriu bastante a cabeça e me fez estudar e abraçar a causa de outras maneiras. Falarei sobre isso num outro post.
Silvia Franco era comissária de bordo de voos internacionais da TAM, andava cansada de tantas viagens, não reconhecia propósito de vida no trabalho e Caraíva funcionava como refúgio, um lugar no qual podia ser ela mesma longe dos padrões impostos pela profissão. Por isso, sugeriu que eu a fotografasse lá.

No final daquele ano, saí de férias e fui para a Chapada Diamantina, na Bahia, um lugar reconhecido pelos trekkings de vários dias que passam por paisagens incríveis, algo que leva a uma reconexão pessoal profunda e reflexões sobre a vida. De lá, extendi a viagem até o sul do estado, onde fica Caraíva, Trancoso e outros tantos lugares bacanas. Apesar de já ter morado no litoral baiano eu não conhecida aquela parte. Se tivesse ido alguns anos antes, teria encontrado um local mais rústico, sem energia elétrica nem tantos turistas. Mas, em janeiro de 2014 a pequena comunidade de pescadores já vivia um hype de paulistas e cariocas em busca de uma mistura de sofisticação e exotismo e isso me causou uma certa decepção. Meu propósito não era badalar nem estar no meio da badalação e me senti extremamente deslocado da vibe das pessoas que gentilmente me cederam - literalmente - uma rede na varanda da casa que haviam alugado. Acabei encontrando Silvia no meio dessa frustração, enquanto eu já pensava em antecipar o retorno das férias. E a minha estada mudou a partir desse encontro.
Silvinha conhece bem a essência daquele lugar. Fotografamos num fim de tarde de verão, num cantinho de praia e mangue do outro lado do rio. Com água acima da cintura, me preocupava pouco com a câmera, observando-a virar uma sereia que permite desfazer-se quando encontra a água. Tudo se alinhou naquele momento: o lugar, a dança, a câmera. O ensaio começou no rio e terminou no mar, assim como é a alma caraivana.
Quando acabou o ensaio, ela fez questão de me apresentar uma amiga sua. Joana, moradora de Caraíva, é artesã. Das belezas e paisagens do lugar tira inspiração para bordar seu belo trabalho. Em seu atelier, à beira do rio, ela não precisou se preocupar em posar, apenas fez o que está acostumada: olhou para a natureza e bordou
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Eu já estava satisfeito com as fotos, mas ainda não tinha onde dormir. O dinheiro era pouco e nenhum lugar aceitava cartão (pix?? kkk). Por recomendação da Silvia fui parar num hostel à beira do mangue e consegui uma vaga num beliche. Não era muito confortável mas lá encontrei uma galera realmente interessante e descolada e finalmente pude curtir a Caraíva que tanto ouvi falar.

De quebra ainda fiz mais um ensaio mangue-beat total com a Lana e a Camila. Mas essa conversa fica pra depois.
Pra terminar a história; tempos depois, a Silvia deixou a TAM para voar com as próprias asas. Mudou-se para o litoral norte paulista, teve uma filha, a Crystal e dedica sua arte a confeccionar moda e acessórios em macramê, trazendo seu amor pela praia, rio e mar para a metrópole paulistana.
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